Enem de novo: sim ou não

Quem foi prejudicado tem direito a nova prova, mas não podemos ser insensíveis aos pedidos de quem não quer repetir a maratona


Mesmo que o MEC diga que a aplicação de uma nova prova só para os alunos que receberam cadernos sem algumas questões resolverá os problemas do Enem deste ano, hoje ninguém pode dizer, com segurança, o que vai acontecer nos próximos dias.
Mais de três 3 milhões de pessoas se submeteram ao Enem no final de semana. Não foi nada fácil. Antes do início das provas já tivemos polêmicas, como a absurda proibição do uso de lápis e relógio. A tensão que viria para os alunos, nos dias de prova, foi antecipada.
No sábado, quando cada aluno recebeu seu caderno de questões, começou a grande confusão. A inversão das questões no caderno, em relação ao gabarito, colocou na mão de milhares de coordenadores de escolas a obrigação de resolver o problema.
A solução era óbvia. Como o gabarito é passado por um leitor de cartão, era só marcar a questão 1 do caderno na questão 1 do gabarito, a 2 na 2, a 3 na 3, e assim sucessivamente. Mas é demais acharmos que todos os coordenadores de escola iriam tomar a decisão correta. O tal efeito "cascata", apesar de o MEC dizer que passou a orientação, era totalmente incapaz de fazê-la chegar, e sem nenhum "ruído", a todas as 128 mil salas onde aconteciam o exame. A educação no Brasil, em todos os níveis, valoriza demais a acumulação de conteúdos e despreza o desenvolvimento de capacidades cognitivas para a resolução de problemas reais. Saber conteúdos não garante a ninguém saber resolver e saber fazer. Resolver o problema, por mais fácil que ele seja, foi uma enorme dificuldade em vários locais de prova
Em várias salas, chegaram orientações para que os candidatos anotassem o gabarito de forma invertida. Nesses lugares, o candidato que queria fazer diferente não pode discordar do fiscal, por que agir com "descortesia" com que trabalha na aplicação do Enem causa desclassificação.
Entre tantas confusões, tivemos, nos dois dias, 180 questões, uma redação e dez horas de prova. Uma verdadeira maratona. O segundo dia, apesar de ter contato com uma prova melhor elaborada, foi muito mais desgastante. As pessoas estavam preocupadas com a confusão do dia anterior, que já era o assunto mais debatido no país. Quem resolveu com cuidado a prova do domingo teve que fazer o possível e o impossível para responder as 90 questões de Linguagens e Matemática e, ainda, elaborar uma boa redação. Não foi pouco. As pessoas saíram do Enem esgotadas.
Boa parte dos que fizeram o exame também é candidato em vestibulares de faculdades que não selecionam pela nota do Enem. Precisavam estar se preparando para estas provas, mas agora dividem o tempo entre a preparação e o acompanhamento do destino de seu aproveitamento no Enem.
É natural que a maioria das pessoas que passaram por tudo isso não queiram fazer um novo Enem. Eles torcem para que a prova não seja cancelada e que possam voltar a fazer o que tinham planejado para suas vidas. Justo, afinal sabiam, desde o começo do ano, quando seria o Enem e também se planejaram para isso.
Acontece que algumas pessoas receberam cadernos de questões com páginas em branco no primeiro dia. Elas não tiveram as mesmas condições de mensurar seu aproveitamento que as outras. Pouco importa se são cem, mil, dois mil ou cem mil pessoas. Elas precisam ter seus direitos preservados. Já estão, há dias, passando por uma enorme insegurança. Não há espaço nem pra discussão, para eles o mínimo que se pode fazer é garantir outra oportunidade de fazer a prova.
Além disso, outras pessoas podem ter sido prejudicadas, em diferentes proporções. A maior parte delas não pode entrar com lápis, algumas poucas levaram e usaram. O relógio também foi um beneficio que poucos usufruíram. O preenchimento do cartão de forma invertida deixou alguns candidatos em desvantagem. Além da tensão de não saber se estava anotando corretamente, preencher o gabarito de forma invertida exige trabalho e faz que se gaste muito mais tempo.
Esta é, hoje, a situação. A maior parte das pessoas não querem fazer de novo a prova. Alguns querem, com toda razão e investidos de seus direitos. Tudo é mais simples de resolver se a prova tiver usado a TRI (Teoria da Resposta ao Item). Quem foi prejudicado poderia fazer uma prova com nível de dificuldade exatamente igual ao que foi utilizado neste final de semana. O arquivo para um novo exame inclusive já está pronto. Dia 6 e 7 de dezembro está planejado a aplicação do Enem em mais de 600 presídios e unidades socioeducativas. Esta é a prova que o MEC tem pronta.
Para a prova ser igual pra todos e garantir isonomia, precisa ter utilizado TRI, o que é o grande problema. Por falta de publicidade e transparência nas ações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ninguém pode afirmar que o TRI esteja sendo utilizado (para entender melhor as dúvidas sobre a utilização do TRI, leia o artigo "Que Nota é Esta?", desta coluna).
Quem teve o caderno sem algumas questões tem o direito de fazer de novo a prova. Quem se atrapalhou na hora de inverter o gabarito tem direito de fazer de novo a prova. Quem acha que a falta de lápis e relógio atrapalhou seu rendimento tem direito de fazer de novo a prova. Direitos individuais precisam ser preservados.
Agora, não podemos ser insensíveis aos pedidos de quem não quer passar de novo por esta maratona. A melhor solução para resolver o impasse é oferecer novos dias de exame, que não coincidam com nenhum vestibular no país, para todos aqueles que desejam fazer.
Quem não quiser, não faz de novo. Assume o risco da prova ter dificuldade diferente da que ele fez. Quem fizer pela segunda vez tem garantido que será considerada a melhor entre as duas notas. Lápis e relógio mecânico, que não atentam contra a segurança, passam a ser permitidos. E ai o Inep e o MEC precisam aprender com os erros desses dois anos. Tornar o exame transparente aumenta bastante o trabalho, por que inclui a sociedade na discussão dos rumos do Enem, mas certamente ajuda a aprimorar a prova.

Por Mateus Prado
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/colunistas/mateusprado/enem+de+novo+sim+ou+nao/c1237823809714.html

Concurso Prefeitura de BH Educação

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